Uma pausa

Estou na blogoesfera desde 2005. Apaguei alguns blogs, mantenho muitos. Houve um momento em que fui arrumando a escrita e o número de blogs proliferou, os assuntos eram diversos e cada um passou a ser a gaveta daquela outra parte da minha pessoa. Desmultipliquei-me. De janela aberta ao exterior, gerei efeitos, enganos, erros. Terei escrito por vezes sobre assuntos interessantes, muitos momentos sairam-me bem. Cheguei a um ponto em que a vida se confundiu com a escrita. Perdi amiúde o sentido da proporção. Os sentimentos são imodestos. A multiplicidade de pouco, como uns cacos de vidro colorido num caleidoscópio, gera a ilusão de muito, o arco-íris de umas gotas de chuva projectadas pelo sol.
Há, porém, um dia em que o milagre que gera a criação nos pede uma trégua. Quem exorciza o demónio criador esgota-se ao esconjurá-lo. Acorda-se muito cansado e pensa-se. Na ante-véspera havia um homem obcecado em dar-se a conhecer, às vezes grandiloquente, quantas ridículo, frequentemente ingénuo; hoje, há um que anseia, enfim, recolhimento. Talvez seja a luz do sol que faz doer a cabeça. Faço, pois, uma pausa. Não se estranhe, por isso, o silêncio. É só isto.