Nasce-se duas vezes

De facto, fazendo as contas e tendo nascido a 25 de Março, faz sentido o que ouvi, primeiro murmurado porque era miúdo demais para saber "dessas coisas", depois já em alta voz porque já tinha crescido e já fazia também "essas coisas" das quais me saíram três filhos: fui concebido na noite de Santo António.
Ontem dei comigo a explicar que fazia afinal anos no dia de aniversário - por ter sido o dia do parto - do jovem Pedro, a festejar as suas quinze Primaveras, usando a imagem das flores e do ovo da galinha para ser entendido pela sua miúda irmã.
A verdade é que se nasce, afinal, duas vezes: a primeira quando nos produzem, naquele encontro milagroso de um pai e uma mãe e um acaso fértil, a segunda quando, em esforço e agonia angustiosa de incerteza, vemos a luz do dia.
Acaso curioso: aquela que me deu o ser, foi baptizada in extremis porque em vias de falecer, bebé ainda, levada à Igreja de Oliveirinha por uma chorosa Mãe. Foi madrinha uma camponesa que a Fortuna fez passar na estrada e Padrinho, por sugestão salvífica do Capelão que lhe administrou o Sacramento, o Santo António.
Chamo-me António por causa disso. José por ser o nome do meu avô paterno. Morreu em São Tomé, esmagado por uma árvore.