Ser ou não ser

A ideia de se poder ser ninguém no imenso anfiteatro 1 da Faculdade de Direito de Lisboa surgiu-me quando na primeira aula de Direito Constitucional o professor Marcelo Caetano chamava os alunos, um a um, para que, do lugar, dissessem o nome e de onde vinham. Aqui e além o nome de família - cuja importância só vim a perceber mais tarde - ecoava-lhe no espírito alguma luz e perguntava se era filho de ou de algum modo familiar relativamente a. O que marcava alguma inicial diferença.
No meu caso o nome passou despercebido. A verdade é que nem eu estava certo quanto ao Rebelo da Silva, vindo do lado da Mãe, pertencer a alguma linhagem que me entroncasse na família do escritor que foi ministro e que antes dos sessenta anos, quando morreu, tinha escrito para cima de cinquenta livros, nem do Barreiros me lembraria de invocar o nome do Cónego em cujo Seminário-Colégio meu pai, seu sobrinho neto, estudara, condiscípulo de Oliveira Salazar.
Talvez, nessa cerimónia de apresentação de credenciais, tal me tivesse valido para qualquer coisa neste País que é, do ponto de vista da sua genealogia moral, uma Monarquia entregue a feitores republicanos. Mas não: José António bastava-me. José por ser o nome do meu avô, António por ter sido obra de uma seguramente divertida noite de Santo António.