Era uma vez um gato
Não sei de onde veio a ideia que afirmei, sem hesitar, na cadeira do meu barbeiro que usei barba crescida desde que me nasceu barba ou talvez um pouco depois. Descobri esta noite a demonstração do contrário. Nasceu-me então uma questão filosófico-pilosa: tê-la cortado entretanto? Ou será que tudo começou por este farfalhudo e ante-nietzscheano bigode antes de progredir rosto abaixo?
Depois é a questão simbólica do gato e do cachimbo. Quanto a esta tudo começou com Mayflower ao ter visto o ar de radiante contentamento do primeiro fumador. Decidi-me, suportando o ardor da língua e o seu inchaço, maleita de iniciado. Ainda hoje guardo, em relicário, uma colecção, muitos fumados até ao esgotamento do fornilho.
Quando se fuma cachimbo o bom odor é para os outros, o próprio não o sente. Não é que isso signifique altruísmo, mas é como se a alma, expirada, exalasse ao mundo a sua substância.
Posto isto e voltando à cadeira do meu barbeiro, que é feito da farta cabeleira? Algures, julgo que paulatinamente, a vida foi-se encarregando dela. Ido o revestimento ficou o miolo ou o que dele resta..