70 anos, inevitavelmente !


Olhando para trás, aqui estão: 70 anos ! Perante essa inevitabilidade do calendário, que direi? 
Que vou passar o dia a trabalhar na profissão, e assim a semana toda, a tentar cumprir com os seus deveres e são pesados, sentindo-me reiteradamente aquém do que deveria ter aprontado, mas teimando sempre, fazendo listas, obsessivas e teimosas. Esperançosas, ansiosas de acertar.
Que tenho planos de escrita, exigentes, mas, juiz severo sobre quanto faço, tentarei seja a obra publicada melhor na substância e mais cuidada na forma do que a já surgida. E editarei, a haver quem leia.
Que tenho dos vinte anos a esperança solitária de me reinventar, contando com as próprias forças, tentando não sacrificar quem me ama. E ajudar no que puder e sejam gentis, poupando-me.
Que vivi, diverso e intenso e assim será, por ser nisso que me revejo, ainda se ansiando da quietude a tranquilidade. E, porque não, um intervalo para o banal, de vez em quando.
70 anos são evidência de que o caminho a percorrer já é infinitamente menor ante o já calcorreado, mas isso não aflige. Afligiria se, olhando para trás, encontrasse do vencido apenas as pegadas.
Que devo a alguns dos meus semelhantes gratidão, pois estiveram quando o acanhamento me refreou pedir ajuda, para com outros a dívida por honrar do mal que possa não ter reparado, sem rancor, porém, ante o infortúnio que me haja sido causado.
Aqui estão eles, 70 anos! Não haverá outros, mas existirá viver de cada ano, um a um, os seus meses, e destes, todos os dias, a toda a hora, remexidamente.
A vantagem dos números grandes, quando percebidos, é fazerem-nos alcançar a imensidão dos números pequeninos, nos quais está contida da vida a sua essência.