Chegou, inesperada prenda de Natal. É a primeira vez que tenho uma sua fotografia. A imagem ocupa agora o espaço que na memória se reservava a uma cada vez mais longínqua distância, pois a real recordação já se ensarilhava com o que era já só lembrança do que ouvia dizer em casa.
Andou comigo ao colo e chamava "Madrinha" a minha Mãe. A sua mulher chamava-se Saudade, um dos mais bonitos nomes de mulher que me foi dado ouvir.
Entre os remorsos que carrego, fruto de escolhas que não foram minhas e de rejeições que a vida gerou, este fica assim sublimado, restituindo-me a paz.
Chama-se Carlos Eugénio Pina do Amaral. Meu Pai chamava-se José Barreiros Pina do Amaral. Morreram ambos, o nosso Pai e este meu irmão.
Mulato, filho de amores africanos, é, afinal, sangue do meu sangue, mesmo que as circunstâncias tenham separado aquilo que o acaso agora uniu.