A ânsia de resistir até ao fim
Tinhas 47 anos. Iniciaste esse ano o resto da tua vida, solitária, isolada de tudo e de todos. Envergas o luto recente de viúva.
Ontem um estranho pressentimento fez com que nos despedíssemos, no silêncio, na ausência já de qualquer possibilidade de comunicação outra que a de um olhar, um afago.
Olhei-te nos olhos. Entardecia. Na ânsia de resistir à sufocação, contemplavas já o infinito. Lutaste até à exaustão.
«Mãe, dorme, dorme descansada», balbuciei, sem jeito, como nunca fomos capazes afinal de saber dizer o que fosse um ao outro das nossas almas.
Juntaste-te esta madrugada aos que antes de nós partiram.
Esta manhã o telefone tocou.