Lema e repto para a viagem


Talvez sejam estes momentos dramáticos já não para a pessoa ou a sua família, trágicos sim para a Humanidade de que somos partícula, aqueles em que o Homem dá consigo a pensar a pequenez do seu ser e, ante a extensão do tempo, o diminuto espaço que nele ocupou. E, sobretudo, aquele enorme fosso entre o que poderia ter sido e o que acabou por ser. E a radical diferença entre o modo como ele é visto e aquilo que supõe ter sido.

Por isso as autobiografias são apontamentos artificiais, desfocados, úteis talvez como complemento para o que outros possam ter visto, ou repositório daquilo de que o biografado foi mero espectador.

Isto para dizer que, salvo se a senilidade de um dia vier a dar em vaidade e esta em desproporção, jamais escreverei livro que seja sobre mim. Este espaço tornou-se, aos poucos, mero lugar de apontamentos dispersos de recordações do vivido e do sentido.

Hoje recordaste o que encontrámos numa aldeia pela Ericeira, lema e repto numa só frase: «Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável.»

Fica, pois, aqui, esse momento. Encontrado o destino, vai-se a nau aparelhando, não há escorbuto, contemporâneo seja, que impeça o "terra à vista!" nisso fixados o amor pela viagem.