O eu e os outros
Nasci em Malanje em Angola, no dia 25.03.49, porque os meus pais viviam ali. Mudei-me para Viseu em 1962, porque, entretanto, a guerra começou, logo pela zona onde vivíamos. Disse que queria estudar Direito, porque era um adolescente imaturo, que via filmes do Perry Mason. Não fui estudar Direito para Coimbra mas para Lisboa porque o meu pai adoeceu e mudámo-nos, na penúria, para aqui. Acabei o curso sem grande história, porque sempre fui um aluno sofrível. Terminei na Advocacia, porque a PIDE não me deixou ser juiz. Sou um descrente da vida política, porque a que vivi me desiludiu. Hoje gostaria de fazer uma só coisa: escrever. Tenho-o feito, em livros, nos jornais e agora na blogoesfera. O meu primeiro artigo aconteceu porque eu tinha 19 anos de juvenil entusiasmo. O meu último escrito surgirá quando eu tiver ainda não sei quantos anos de senil desespero. Deixo três filhos, na esperança que sejam senhores do seu destino, porque acredito no livre arbítrio, o dos outros.
P. S. Durante dezassete anos estive ligado ao ensino universitário. Na Universidade Clássica porque com o 25 de Abril se criara um vazio que era preciso remediar, no ensino privado, porque precisava de um emprego. Nunca me doutorei. Entusiasmei estudantes que são hoje juristas bem melhores do que eu. Se alguém se realiza assim, sou um homem realizado.