José António também


Uma bala da PIDE matou-o. Éramos colegas de carteira na Faculdade de Direito, porque nos arrumavam alfabeticamente e ele era José António Ribeiro dos Santos e eu José António Rebelo da Silva Barreiros.
Na Cantina Velha da Cidade Universitária conversávamos tardes inteiras. E vínhamos por vezes a pé até a Entrecapos e dali ao Saldanha e dali ao Marquês e porque não já agora até ao Rossio e mais um estirão até Santos, onde ele morava.
Falávamos de tudo, incluindo as mil provas da inexistência de Deus, apesar de Santo Anselmo.
Talvez também da política, aquela que pulsava nas veias do "movimento associativo", esse mundo de comunicados tirados ao copiador a stencil e de cartazes em papel cenário e de cargas da Polícia de Choque, e arengas do regime de que estávamos a soldo de Pequim e Moscovo.
Lembrei-me dele hoje por causa desta fotografia que fui encontrar num dos meus desirmanados álbuns fotográficos, feitos de restos de memórias.
Foi tirada a ambos num dos nossos almoços de curso, num Convento Franciscano, que nos abriu as portas pela gentileza de um outro nosso Colega, o Padre Vítor Melícias, da mesma ordem religiosa.